Literatura na favela
A antologia Cenas da Favela (Geração Editorial, 2007) traz, segundo Nelson de Oliveira, que a organizou, “As melhores histórias da periferia brasileira”. Por esta afirmação, pelos textos e autores selecionados, o leitor constatará que, além da unidade temática, procurou-se garantir a diversidade de representação da favela, fugindo, desse modo, do olhar estereotipado. O leitor tem também a oportunidade de freqüentar os textos de diversos autores e de conhecer o modo como estes homens e mulheres, alguns do morro e outros do asfalto, representaram estes núcleos de habitação formados como alternativa ao descaso e as ausências do poder público em garantir os direitos mínimos dos cidadãos. Desse modo, o leitor caminha pelos textos de Carlos Drummond de Andrade, Lygia Fagundes Telles, Rubem Fonseca, João Antônio e Carolina Maria de Jesus; como exemplo de literatura mais recente, o leitor acompanha Paulo Lins, Ferréz, Marçal Aquino, Marcelino Freire e o próprio Nelson Oliveira, entre outros. O que se pode dizer desta experiência em percorrer a favela literária é que o leitor tem a rica oportunidade de confrontar-se com o Brasil que muitos só imaginam conhecer e que é atrativo de estrangeiros maravilhados ao percorrem em carros de safári a Rocinha e outros morros cariocas. Desde o Naturalismo, que espaços como a favela estão nas páginas da literatura nacional. O romance O Cortiço, de Aluízio Azevedo, é um exemplo dessa presença. No romance Tentação, de Adolfo Caminha, há referência à Cidade Nova, que causava repulsa nos moradores do aristocrático bairro de Botafogo. Na seqüência, vieram Lima Barreto, Carolina Maria de Jesus e João Antônio. Destes, foi a autora de Quarto de despejo (1960) a única a viver de fato na favela: “Duro é o pão que comemos, dura é a cama que dormimos. Dura é a vida do favelado.” Autores recentes Dos autores que publicaram mais recentemente, Paulo Lins, autor de Cidade de Deus, que também se tornou filme e foi indicado ao Oscar, colabora com o conto Destino de artista, em que aparece de modo muito crítico a favela do samba; mas parece ser Ferréz (Reginaldo Ferreira da Silva), a menina dos olhos da coletânea, uma vez que colabora com cinco contos e um poema, todos eles publicados originalmente na revista Caros Amigos, especialmente no número dedicado à chamada “Literatura marginal” (Caros Amigos/ ago. 1998). Ferréz, que é morador do Capão Redondo, traz para a sua narrativa os fatos do cotidiano da favela; ele mesmo faz-se personagem, procurando não dividir o personagem do autor numa atitude explícita de assumir a fala do favelado. A oportunidade de falar de Cenas da Favela, remete o leitor ao encontro desta temática na própria literatura cearense, valendo citar os romances Ponta de rua, de Fran Martins, e Pirambu, de Ciro Sampaio. Na poesia, destaca-se Fala, Favela, de Adriano Espíndola, que narra a saga dos favelados da avenida José Bastos. De um modo geral, em ambos os casos, na literatura nacional e cearense esta temática comprova um fato: a favela já deu música, pintura, cinema e de um modo bastante vivo e múltiplo, a favela dá literatura.
1 Comentários:
Oi Miracy, parabéns pelo seu blog. Dá uma olhada no meu e comenta ok?
Bjinhos
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial